quarta-feira, 11 de junho de 2014

Grupo B | Austrália


O Primo do Chico Bento





Nas histórias em quadrinhos, um personagem expressa diversos traços da autêntica cultura brasileira: Chico Bento. O menino caipira  é traquina, brinca de roubar goiabas e é um aluno meio preguiçoso. Contudo, Chico é puro, amoroso e religioso — tem até anjo da guarda —, mas com um lado espiritualista alternativo que adora ouvir lendas de lobisomens e mulas sem cabeça.

Chico é, de certo modo, um retrato do Brasil profundo. Um país jovem, quase infantil, que ainda se surpreende com os encantos do mundo dito civilizado e urbano, mas que não abre mão de uma vida simples e consideravelmente desregrada.

O contraponto a isso é o primo Zeca. O parente cosmopolita de Chico Bento é quase sua antítese, uma vez que reside em um moderno apartamento, estuda nas melhores escolas e tem o hábito de viajar para várias partes do mundo. Alegoricamente este personagem representaria a Austrália.

A torcida animada da Austrália promete fazer muito barulho nos jogos contra Espanha, Holanda e Chile.





















O maior país da Oceania, assim como nós, também é um país jovem e com histórico de colonização. Entretanto, possui uma trajetória de desenvolvimento muito diferente em relação ao Brasil. Sua densidade populacional é baixa, seu IDH é elevadíssimo e suas preferências esportivas são outras heranças britânicas, como rúgbi, tênis, críquete e golfe. Muitos diriam que a Austrália é o Brasil que deu certo, algo certamente exagerado e superficial. Afinal, quem é mais feliz: o simplório Chico Bento ou o modernoso Primo Zeca?

A discussão é complexa, mas o fato é que no futebol, o êxito dos países apresenta papel invertido, com ampla vantagem para o matuto. Se por um lado o Brasil é o maior campeão da história das Copas e detentor do título de país do futebol, os Socceroos apresentam no currículo um modesto vice-campeonato da Copa das Confederações, em 1997 — um vareio de 6 a 0 contra o Brasil —, um quarto lugar nos Jogos Olímpicos de 1992 e uma classificação as oitavas de final da Copa do Mundo de 2006.

ESSE CONHECE: Tim Cahill, 34, é a referência do time. O artilheiro australiano vai disputar a sua terceira Copa.





















Não é a toa que este jovenzinho rico, mimado e bronzeado resolveu fazer intercâmbio e experimentar a disputa das eliminatórias asiáticas, com o aval da titia FIFA. Afinal, nas brincadeiras de seu continente, a Austrália representa o garoto mais velho, alto, tatuado, forte e que faz o que quer com os colegas, rivalizando apenas com o guri da rua de baixo, a Nova Zelândia.

Já na Ásia, a Austrália encontra colegas do seu porte, o que, até o momento, não tem impedido sua ida à grande festa, a Copa do Mundo. Esteve presente nas duas últimas edições do Mundial, já concorrendo com rapazes narigudos, de olhos puxados e afins. O time também se classificou para a Copa da Alemanha Ocidental, em 1974, ano em que a FIFA iniciava sua cruzada pelos cinco continentes, em busca de um Mundial mais globalizado e de votos para a perpetuação no poder de certos dirigentes.

FIQUE DE OLHO em Tommy Oar. Jogador de Utrecht desde os 18 anos, hoje, com 22, é a grande aposta do técnico greco-australiano.

Hoje, o time vem à Copa como um adolescente ingênuo nas ardilosas esquinas do mundo da bola, as quais o Brasil conhece cada palmo. Para isso, trouxe na sua turma de garotos os mais experientes: Tim Cahill, Mark Bresciano e o capitão Mile Jedinák. No entanto, saber beber/jogar não é suficiente para se aproximar da desejada musa/taça. Ainda mais enfrentando o campeão e o vice do último baile, além do promissor e também descolado Chile.

Resta à Austrália aproveitar a viagem para conhecer mais macetes a fim de conquistar a mãe da linda garota Taça, a Dona Bola. Só ela permitiria um passeio de quatro anos ao lado da dourada menina dos olhos de todo o planeta. A concorrência está grande, é verdade, e os meninos do bumerangue ainda estão decorando o que dizer à redonda — provavelmente em vão. Na roça do futebol, até o Zé Lelé (Argentina) tem mais chances de conquista que o metódico e inexperiente primo Zeca da Oceania.

NO ESQUEMA:  4-2-1-3


Com um técnico grego à frente da equipe, Ange Postecoglou, não poderia ser diferente o sistema de jogo australiano: marcação cerrada. A ordem é pressionar a saída de bola do adversário. No resto, bola no Tim Cahill. 


4-2-3-1 (clique para ampliar)






Histórico em Copas (clique para ampliar)











Rafael Bauer, professor de turismo e turista profissional




Nenhum comentário:

Postar um comentário