Verão em Atlanta
Era verão em
Atlanta quando o Brasil fez 1 a 0 antes de dois minutos, virou o primeiro tempo
ganhando por 3 a 1 e Dida defendeu um pênalti. Era verão em Atlanta quando,
mesmo assim, o Brasil perdeu o jogo. Nunca havia sido tão fácil chegar numa
final. Nunca havia sido tão catastrófico não chegar numa final. Naquela tarde melancólica, que marcou mais um papelão olímpico
brasileiro, a Nigéria foi para a decisão. E conquistou o título de 96.
Se o Brasil tinha
Rivaldo, Bebeto, Ronaldo e Roberto Carlos — que fez um gol contra —, a Nigéria
tinha Okocha, Babangida, Amokachi e, claro, Nwankwu Kanu. Foi de Kanu o gol de
empate no último lance da partida. Foi de Kanu o "gol de ouro" na
prorrogação, que tornou o jogador famoso tão rápido quanto a eliminação brasileira.
E com aquele mesmo sorriso debochado com o qual comemorou os gols sobre o
Brasil — dançando —, ele encarou a morte.
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Kanu contra Roberto Carlos. O nigeriano, hoje, gerencia uma fundação que cuida de crianças em regiões carentes da África. |
Operado por causa
de sérios problemas cardíacos, Kanu foi obrigado a ficar longe dos gramados por
um ano. Voltou desacreditado para o futebol, mas sobreviveu à desconfiança. Começando
uma etapa de muitas idas e vindas pelo futebol inglês, Kanu retornou também à seleção,
e participou dos fiascos de 2002 e 2010. Depois da eliminação precoce na Copa
da África do Sul, um escândalo veio à tona.
Um jornalista nigeriano
especulou que Kanu havia fraudado a própria idade: em vez de 33, ele teria 42
anos — nada foi provado. A questão da falsificação de documentos não era novidade
no país, visto que a Nigéria era uma potência nas competições de juniores. No
entanto, as acusações fizeram a seleção principal, envelhecida em 2010,
rejuvenescer três anos para a Copa das Nações Africanas de 2012. O time que participou
ano passado da Copa das Confederações tinha, em média, 24, 2
anos.
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ESSE É O CARA: John-Obi Mikel quer repetir em 2014 as boas atuações da Copa das Confederações de 2013. |
Ainda que as idades
tenham diminuído, os talentos ficaram escassos. A seleção nigeriana carece de
meias criativos como Jay-Jay Okocha, ou atacantes clássicos como Yekini.
Reserva no Chelsea, John Obi Mikel é quem talvez mais se aproxime de um jogador de referência: é ele quem dita o ritmo de jogo, ainda que seja um volante, não um homem
de criação.
Victor Moses é
outro nome bastante badalado, mas o jogador do Chelsea — emprestado ao
Liverpool na última temporada — nem de longe lembra o incisivo Babangida. De
certo, a Nigéria de 2014 leva mais vantagem pelo grupo em que se encontra do
que pelo elenco propriamente dito. Mas observando as campanhas dos dois últimos
Mundiais que participou até mesmo uma terceira colocação não seria mau negócio.
Pior mesmo é
imaginar que, naquele verão em Atlanta, a equipe olímpica brasileira talvez
tenha perdido para um time de veteranos da Nigéria.
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FIQUE DE OLHO: Shola Ameobi jogou as divisões de base pelo English Team, mas preferiu atuar pelas Super-Águias. O atacante foi um dos destaques do Newcastle United nesta temporada. |
NO ESQUEMA: 4-1-3-2
O técnico Stephen
Keshi acredita que atacar é melhor que defender — talvez por ter convivido com
Okocha e Cia durante a Copa de 94. Para isso, joga com até três atacantes sem posição
fixa, Musa, Emenike e Ameobi, enquanto Moses cai pelas pontas e Mikel municia
toda essa turma.
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4-1-3-2 / 4-4-3 (clique para ampliar) |
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Histórico em Copas (clique para ampliar) |
Marcelo Martensen,
publicitário, tem vinte
e sete anos
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